Há vinte anos o mundo se deparava com aquele que viria a ser um marco no cinema independente, em frente a uma época que parecia pouco inventiva e sem fluidez de ideias, surgia um filme que compôs um novo estilo e que lapidaria o surgimento de um novo gênio que ainda despontava. Poucas vezes podemos ver uma estreia na direção tão forte e empolgante como essa de Quentin Tarantino em Cães de Aluguel, todo seu universo cinematográfico era compactado aqui e o que temos é um breve preâmbulo do que o até então jovem diretor produziria em seguida. Um filme que mesmo sendo de baixo orçamento surpreendeu o público e os grandes estúdios, dando sagacidade e presenteando a sétima arte com mais um mestre inigualável.
Cães de Aluguel surge a nós como a premissa de um policial, onde cinco homens que nunca se viram antes, e cujas identidades não são reveladas entre si, são contratados para a execução de um assalto à joalheria. O assalto acaba dando errado e os então integrantes do grupo se reencontram em um galpão abandonado, onde se passa todo o restante do filme, ali se firma um clima de desconfiança entre eles que partindo disso tentam descobrir o suposto traidor infiltrado. O elenco que é outro quesito à parte, engloba atores como: Harvey Keitel, interpretando o "sensato" Mr. White, Tim Roth, reproduzindo um fantástico Mr. Orange, Steve Buscemi, sendo o hilário Mr. Pink e Michael Madsen, como o sádico Mr. Blonde, fazendo uma de suas últimas marcantes interpretações.
O que se sucede não é apenas uma mera história de um assalto à
joalheria que deu errado, tanto que o assalto em si nunca se é mostrado,
o que é outra grande característica do filme. Cães de aluguel se difere
criando um cenário que horas passa da violência e humor-negro, a
diálogos extremos injetados de alusões à cultura pop, essa outra grande
particularidade que persegue Tarantino até os dias de hoje; o clima
nunca toma um ar mais sério, a intenção aqui nunca foi essa, até a
violência ganha ares cômicos, como na clássica cena em que Mr. Blonde ao
som de uma rádio fictícia faz uma "dançinha" antes de arrancar fora a
orelha de um policial refém. A violência item indispensável na orbe
"tarantinesca" já dava seus incríveis primeiros passos aqui, o filme
inteiro surpreende em um sentindo em que cria contrastes, assentando uma
diferente visão de como se fazer cinema, tornando o palco perfeito de
inovações, mesmo que ainda se usando de artifícios conhecidos.
Outro grande fator que merece destaque é sua linha narrativa que é
dada de uma forma não linear, utilizando-se de constantes flashbacks
para a explicação do enredo, aqui uma clara influência de "The Killing",
que é apenas uma das várias existentes nesse irreverente épico, que
carrega o espírito dos filmes B e da cultura pulp. A soundtrack, como
não poderia ser diferente, tem papel fundamental, pairando por clássicos
dos anos 60 aos 80. Dentre tantos elementos surpreendentes em uma
estreia, muito se falou a respeito da originalidade de seu respectivo
criador, é óbvio que as referências estão por todos os lados, mas elas
não são simplesmente genuínas reproduções, aqui elas são usadas e
transformadas criando uma obra-prima, digna de ser lembrada por muito
tempo.
Simples e brilhante ao mesmo tempo, cães de aluguel é mais uma daquelas
provas de que a arte em suas diferentes formas e efeitos não se limita
apenas as grandes produções. Algumas minutos e sabe-se que surge algo
nunca visto antes, e o mais surpreendente é que esse filme abriu as
portas para aquilo que viria a ser "Pulp Fiction" dois anos mais tarde e
Quentin Tarantino à essa altura já teria decretado seu nome como um dos
maiores diretores de seu tempo.
Por: Vanessa V.
Parabéns, Vanessa! Ótima postagem, leitura agradável e conteúdo muito bom!
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